Lugares altos exercem fascínio na gente desde sempre: crianças escalam móveis e se debruçam em janelas, homens arriscam a vida em explorações de montanhas e invenções para tomar o céu, sociedades constroem monumentos gigantes para mostrar sua importância. Deve ser porque de lá a vista vai mais longe do que jamais conseguiríamos da nossa perspectiva diminuta. E alcançar o topo, ponto privilegiado aonde poucos se arriscam a chegar, nos faz poderosos: temporariamente, somos donos secretos daquele mundo que se descortina à frente.
E o engraçado é que, seja na escalada do Everest, seja no mirante da estrada, tudo se passa em poucos minutos.
Porque essa é outra curiosidade a respeito dos lugares altos – levamos mais tempo subindo do que apreciando.
Lembro-me de morros em que me arrastei nos últimos passos, árvores que desbravei até o último galho frouxo, paredes que escalei até não sentir mais os braços, os degraus intermináveis de pontos turísticos.
A chegada é um alívio do tamanho da conquista.
Depois de algumas respiradas fundas, talvez umas fotos, um olhar em 360 graus, quero logo descer.
Qualquer pessoa com bom-senso perguntaria: mas tanto esforço só pra isso? Provavelmente, essa é uma pessoa com medo de altura.
Porque, o mais importante sobre os lugares altos, quem sobe sabe: não é necessariamente a vista que eles nos proporcionam, mas a sensação de que somos capazes de chegar lá.